quinta-feira, 8 de março de 2012

Chega de tristeza, menina!


 Ela estava triste. E na verdade, nem sabia o motivo. Talvez por estar no último ano do ensino médio e não querer se despedir da vida mansa de ter poucas responsabilidades, ou pela falta que vai sentir dos amigos. Talvez pela pressão que ela estava sofrendo por causa da proximidade do vestibular, e por saber que não estava preparada, ou, pelo menos, não se sentia preparada. Porque ela vivia no computador, no celular, na televisão, e ela sabia que a vida não era só isso, e que, um dia desses, ela teria que sair debaixo das barras das calças do pai, mas ela não queria. Na verdade, ela queria sim. Queria muito. Mal podia esperar pela tão almejada liberdade de ir e vir por conta própria. Pensava que, quando chegasse aos 18 anos, estaria livre do não que recebia constantemente ao pedir permissão para ir às festas com as suas amigas. Pobre garota. Mal sabia ela que isso tudo não passava de uma doce ilusão, que tudo continuaria a mesma coisa, e que ela só teria a sua carta de alforria quando casasse.

 Ela estava triste consigo mesma. Estava triste por se sentir incapaz de estudar à tarde e culpava o sono, a preguiça, a mosca que voava no seu quarto e a importunava, impedindo-a, assim, de concentrar-se nos livros, só não culpava a si mesma. Na verdade, culpava-se, sim. Só que ela enterrava essa culpa no buraco mais profundo que ela conseguia cavar, porque todo mundo a culpava por ser desorganizada, desinteressada, desfocada, desatenta e desastrada, e, uma menina só, não consegue carregar tanta culpa.

 Ela estava triste, e ela sabia o motivo. Mas ela era uma menina alegre demais pra ficar tão triste assim. Ela ria de tudo, e contagiava todo mundo ao seu redor com a sua alegria constante e até irritante, às vezes. Ela era tão alegre que era o cúmulo da contradição levar toda essa tristeza no peito. Ela não suportava mais guardar tantos sentimentos ruins consigo, então ela decidiu esquecer. Esquecer de todas as responsabilidades, toda a pressão pré-vestibular, toda a falta de liberdade, e toda a culpa. Ela decidiu esquecer tudo que trazia consigo que não era bom, mas, mais importante que isso, ela decidiu esquecer toda a tristeza.